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Sementes alcoólicas


Maldita seja a sorte,
ainda com anestesia.

Germinação de desejos.
Efeito expectorante.
Que os (ir)reais planos
fortaleça o poeta.
Fantástico, inebriante,
sedento e sonâmbulo.

Fauna, fogo, flora, pinga

Duas doses de pinga
pingam nas veias,
transformam-se em fluídos
venenosos por natureza,
um turbilhão começa [...]

Entre o profano, sagrado,
o poema e a poesia,
entra prosa, a crônica,
a internet e o papel.
Verdades, mentiras,
gaiolas, portões,
chinelos, pneus,
asfalto, barro, chão,
verdade e distorção.
Luxo e mentira,
meu bem, meu mal.

A fenda


Gotas de água desabam
O mundo é azul no litoral
Em perspectiva, degradê.
Degradando, ruminando
Melodicamente esquisito

Preguiçosos números

não dão a soma exata.
Abstraem-se nas equações.
Veneno legalizado
Hipérbole paradoxal

Os pingos chocam-se,

assustados, espalhados.
O planeta chão,
estradas de terra,
seca, sol e chuva.

Resposta

Letras são meus números
Ciência inexata de pensar
Escrevo torto porque gosto
Assim é melhor pra mim

Perco-me no tempo verbal
Sinto o chão com meus pés
Carrego interrogações nos bolsos

Troco o pensamento
Não projeto alusões
Desprendo-me do momento
E relaxo temporariamente

Auto-explicativa


Com cílios postiços
e propostas convincentes,
a natureza verdadeira
chama-me convicta
ao mundo íntimo,
organizado por instintos.
Meu metabolismo fraco,
um convite específico
domina meus nervos.

Desprendo-me do instante,
esqueço todas as teorias.
Aqueles cílios agitados
piscam para mim.
Envolvendo meu corpo,
seduzindo e me reduzindo.
Extasiante, provocando
um orgasmo aprisionado
dentro dessa poesia.

Canteiros


Na próxima primavera
se o inverno findar,
lágrimas irão florir
além das próprias flores.

Talvez uma imagem,
um impressionismo abstrato,
seja bem melhor
que esses versos.

Paisagismo triste,
rabiscos desconcertantes.

Para onde vai a nuvem
depois do horizonte?
O sonho terminará
depois que realizado?