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Kanji & suor

Meu discurso condiz, condição.
Digo dele não ter propósito, propositalmente.
Um processo interno, externo,
de meio termo: poético.
Uma sequência de palavras,
de ideias, de significados,
de conceitos, de vazio.

Tem dias que explico e implico,
devaneio, sonho, decepciono.
Um discurso descontinuado
que sempre encontra um final,
despreocupado com sentimentos,
com seus sentimentos.

Uma idéia abstrata,
um conceito concreto,
sentimentos a se formar,
uma poesia de pé, cabeça,
mas sem corpo, sem mãos.

Compreensão
Confusão
Construção

Uma idéia concreta,
um conceito a se formar,
sentimentos abstratos,
uma poesia sem pé, nem cabeça,
de corpo, mãos.

Um discurso que extrapola
a poesia, a tinta, o papel,
as curvas da caligrafia,
os haicais e seus kanjis,
a própria intenção do discurso,
o reflexo da reflexão.

Confusão
Construção
Compreensão

Fragmentado


Somos pessoas simples,
complexamente simples.
Na suave noite.
No quente dia.
Nas manhãs sutis.
Não a nada de nós em vós,
e sim de nossos avós
a cada passo que damos.
O passar do tempo,
devagar,
simples.

Leve


Eu preciso do nada:
um universo longe,
relativo!
Digo, relativo, não,
existencial, criado por mim,
que antecede o próprio
conceito que respira e
inspira minha inspiração,
que por sua vez, sempre insiste
em surgir do nada.

Limites

Ocasiões empíricas,
em companhia, ou até mesmo
estando só,
quando não tenho
o que falar, e sim,
escrever.

Camisa vermelha

Hoje, o vento, pela manhã
estava um pouco frio
apesar de estar fazendo sol,
minha camisa vermelha
não se incomodava com barulho,
nem com a beleza das calçadas,
se animava com meus risos
e, com o choro, me consolava,
às vezes ela mudava de cor,
e com algumas taças de vinho
seu sabor marcava meu corpo,
ela me usava, o dia inteiro,
todos os dias,
socialmente,
in-ti-ma-men-te.

Espelho








Era/é noite,
por isso, conversávamos,
sílaba em t
também participava,
participava também
dó, ré, mi, fá sol, lá, si,
pairava no ar,
pintura, poesia.

Haikai II

Queria falar em um haicai
tudo aquilo que
não me cabe mais.

Eu estou bem!

Já me alimentei,
por algum tempo,
em inventar sonhos
sem perceber que
era preciso realiza-los,
devorava-os em mim.

Por quanto tempo
fiquei a enxergar,
fascinado,
por entre os galhos
das árvores,
a lua, as estrelas,
sem perceber que eles eram
o meu maior obstáculo?

Assim fui sendo consumido
pelo tempo, pelos sonhos.

Hoje vivo de realizar
antes mesmo de sonhar.
O verbo que me segue
é chamado de precisar,
sendo conjugado
em todos os tempo verbais.
Vou me deixando levar,
refletindo algumas vezes
se em algum dia
precisarei, novamente,
sonhar.

Mudanças

Joguei-me
na ventania empoeirada,
buscando esquecimento,
no final da tarde.
Dei pegadas importantes
em espaços, entre estrofes,
de uma poesia qualquer.
Eu e minha indiferença.
Quando a simpática
tolerância que possuo
deixou de me tolerar,
não havia mais emoção
em respirar.

Entrei
na ventania empoeirada
buscando conhecimento:
aprendi que pouco,
nos últimos meses, aprendi.
Eu sou indiferente, diferente.

Destino

Sinto no ar
sentimentos  palpáveis,
invisíveis, gananciosos,
sentimentos insensíveis.

Esqueci minhas falas,
eu posso voar
se assim desejar.

Tudo está precisando
de pré-posições,
um encontro
que por acaso
apenas acontece.

E assim o destino
me leva,
sem nenhum acaso,
ao meu lugar,
à lugar nenhum.