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Estação
Não me canso
do banho de chuva,
das noites mal dormidas,
nas manhãs pouco vividas.
Toda essa desordem
nos proporciona prazeres
e nela eu gosto de viver.
Que tudo seja contato
da maneira mais correta,
nas mais indiretas formas
e nos mais possíveis absurdos.
Do molhado e da frieza
que a chuva me propicia
eu gosto só por gostar,
por mais que ela tente
nunca me virá chata
nem será chateada.
Gosto de prazeres:
andar, correr, deitar,
sentir o agora,
tentando me preocupar
no dia de amanhã.
Fosse
Ultimamente tenho escutado
muitas onomatopeias,
alguns monossílabos
e meias conversas.
Ensaio várias vezes
minhas ações, gestos e palavras,
segurança dentro da insegurança,
vivendo entre o choro e o riso;
o céu e o chão; lixo, luxo;
ciúme e liberdade; prazer e sofrer.
Alguns livros que li
não me acrescentaram nada,
nem algumas músicas sincopadas,
arpejadas, gritadas, sussurradas,
idealizadas, artificiais...
Entre o porão e o sótão, sou pensativo,
cúmplice de brisas e umidade.
Fiel do sentimento que a poesia tem,
que chega devagar e vai embora rápido,
às vezes me pede para ficar um pouco mais,
noutras trás o convite para eu a seguir,
deixando a curiosidade
de que seu eu a seguisse
o que iria encontrar
se atrás dela
eu
fosse.
Azul
Azul
Fotometragem produzido pelo Selos Tabor
Direção, Edição e Fotografia:
Jean Santos
Músicas e Poesia:
Guegueu Schade
Apoio:
Núcleo Aroeira de Arte
Urupês
Lilás
Feito um copo descartável,
biodegradável.
Com uma marca de batom,
cheiro de cerveja
e um gosto amargo
(e um rosto amargo)
de tristeza.
Abandonado em uma esquina,
aquela esquina.
Chorei sozinho na madrugada
contando os seus passos
e sentindo em mim
a marca do seu batom,
ferindo em mim, sua cor lilás.
Despe (dir)
Sou tão seu
enquanto fico despido.
Não sinto nada
quando me visto.
Apenas me despido.
Não entendo o querer,
o meu, o seu.
Pareço forte,
meu sentir é fraco
Facilmente envolvido.
Penso em dizer
o que penso, sinto, quero.
NÃO!
Estou desejando sensações
(mesmo sendo sentimental):
Tesão, prazer, gozo.
SIM!
Sou tão seu
mas não me possua
Se não, visto, me despido.
Início em Ré
Eu cravo os dentes em minhas entranhas,
estranhas mordidas.
Um gosto familiar,
antropofágico.
Mordidas parceladas,
saboreando até enjoar,
escutando a mandíbula,
distinguindo cada cheiro.
Sentimentos
Prazeres
Eu fixo o olhar em minhas entranhas,
estranhas entranhas.
Familiar?
Autofágico
Frio
Sinto frio, sinto medo,
tento pensar em respostas
e em não pensar,
me sinto só, seu.
Tomo café, leite,
e me misturo.
Tão perto,
distante do abraço.
Perto
Hoje comemoro minha dependência,
minha tão sonhada dependência,
posso talvez sofrer em breve,
independência de viver.
Logo festejarei o futuro,
fatos já previstos,
as rimas já esperadas,
desesperadas indo embora
desperdiçando meu tempo
que não volta mais,
que não dança jamais.
Perto de mim o vento passa
Sigo em sua companhia
Respiro suas reflexões
Sigo em total fluidez
E então festejarei o presente
Para que em breve
Não ter mais o que comemorar
Insônia
E agora o que vai ser?
Na madrugada tão veloz
os carros passam,
a lua vai,
mas eu fico aqui.
Pensando, vivendo.
Na madrugada devagar
eu fico aqui.
Buscando sem querer achar,
cantando sem querer falar.
O sol reaparece,
vou seguindo pelos cantos.
Não quero, não posso me esconder
Não quero, não posso me esconder
enquanto não aprender a dormir.